Cruzando o deserto
Nossa viagem seguia fora dos planos.
Correria no aeroporto de São Paulo e descobrimos que nosso voo para Roma estava atrasado, e em Roma perderíamos a conexão. Nesta fase já havíamos aceitado que não tínhamos controle sobre nada.
Então seguimos de São Paulo para Roma e de Roma para o Cairo, saindo de Curitiba na tarde do dia nove de outubro e chegando no Aeroporto Internacional do Cairo na madrugada do dia onze. Um ônibus nos aguardava para nos levar até a cidade de Sharm el Sheikh.
Estávamos cansados e ainda faltavam oito horas de viagem.
Atravessamos o deserto do Sinai e vi o dia amanhecer em uma estrada infinita onde as laterais estavam repletas de areia. Parávamos de tempos em tempos para conferências da polícia e sempre que isso acontecia o segurança que ia no ônibus com a gente descia, conversava um pouco, deixava umas garrafas de água e partíamos. Nosso guia egípcio falava muito bem o português e continuava repetindo “O Egito é bem seguro, minha gente, não se preocupem!”
Apesar de me sentir esgotada, demorei a pegar no sono. Era praticamente impossível naquele momento. Sabíamos que no país ao lado o conflito se agravava entre palestinos e israelenses e estar em um ônibus com apenas brasileiros na madrugada não era confortável, mas não me sentia insegura. Estar fazendo aquela viagem era uma conquista, longe de tudo, sem internet, sem telefone. Era como voltar a viver no século XX, onde nos preocupávamos mais com o que está na nossa frente do que todos que estão conectados virtualmente na nossa realidade.
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Chegamos em Sharm el Sheikh ao meio dia, fomos acomodados e consegui tomar um banho. Enviamos mensagem para minha mãe, que estava preocupada. O hotel era um grande resort em uma área construída especialmente para receber turistas interessados em lazer e mergulho no Mar Vermelho e não pensei duas vezes quando tive a oportunidade de cair na água .
No dia seguinte fizemos todo o caminho de volta, parando para visitar Monte Sinai, o Monastério de Santa Catarina e para almoçar. Foram doze horas até retornarmos ao Cairo e no dia seguinte iríamos para Aswan, pegar um barco e descer o Nilo.