Adriana Tozzi Adriana Tozzi

Cruzando o deserto

Nossa viagem seguia fora dos planos.

Correria no aeroporto de São Paulo e descobrimos que nosso voo para Roma estava atrasado, e em Roma perderíamos a conexão. Nesta fase já havíamos aceitado que não tínhamos controle sobre nada.

Então seguimos de São Paulo para Roma e de Roma para o Cairo, saindo de Curitiba na tarde do dia nove de outubro e chegando no Aeroporto Internacional do Cairo na madrugada do dia onze. Um ônibus nos aguardava para nos levar até a cidade de Sharm el Sheikh.

Estávamos cansados e ainda faltavam oito horas de viagem.

Atravessamos o deserto do Sinai e vi o dia amanhecer em uma estrada infinita onde as laterais estavam repletas de areia. Parávamos de tempos em tempos para conferências da polícia e sempre que isso acontecia o segurança que ia no ônibus com a gente descia, conversava um pouco, deixava umas garrafas de água e partíamos. Nosso guia egípcio falava muito bem o português e continuava repetindo “O Egito é bem seguro, minha gente, não se preocupem!”

Apesar de me sentir esgotada, demorei a pegar no sono. Era praticamente impossível naquele momento. Sabíamos que no país ao lado o conflito se agravava entre palestinos e israelenses e estar em um ônibus com apenas brasileiros na madrugada não era confortável, mas não me sentia insegura. Estar fazendo aquela viagem era uma conquista, longe de tudo, sem internet, sem telefone. Era como voltar a viver no século XX, onde nos preocupávamos mais com o que está na nossa frente do que todos que estão conectados virtualmente na nossa realidade.

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Chegamos em Sharm el Sheikh ao meio dia, fomos acomodados e consegui tomar um banho. Enviamos mensagem para minha mãe, que estava preocupada. O hotel era um grande resort em uma área construída especialmente para receber turistas interessados em lazer e mergulho no Mar Vermelho e não pensei duas vezes quando tive a oportunidade de cair na água .

No dia seguinte fizemos todo o caminho de volta, parando para visitar Monte Sinai, o Monastério de Santa Catarina e para almoçar. Foram doze horas até retornarmos ao Cairo e no dia seguinte iríamos para Aswan, pegar um barco e descer o Nilo.

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Adriana Tozzi Adriana Tozzi

Viagem ao Egito

Essa história começa comigo assistindo Indiana Jones e querendo conhecer o Cairo.

Desde criança, sentia que existia algo na aridez do deserto, um mistério escondido, oculto, que nem todo mundo conseguia ver, mas que eu achava que conseguia, enxergar além - a gente sempre acha que consegue. O deserto era sobrevivência misturada com misticismo e um toque de espiritualidade.

Paralela à esta vontade de um dia pisar naquele solo, eu cresci escutando histórias de alienígenas e sobre as possibilidades de sim, termos recebido em um passado distante visitantes do espaço, mais evoluídos na tecnologia do que nós. Não apenas meu pai contava sobre seres com suas cabeças pontiagudas, mas pertenço à uma geração que foi bombardeada com entertenimento sci-fi via televisão, rádio e literatura, e estes assuntos chegavam facilmente até mim uma vez que meu pai consumia todos eles.

Tinha um livro lá em casa intitulado “Eram os Deuses Astronautas?” de um autor controverso, Eric Von Dike. No livro o autor mostrava evidências de que em várias partes do mundo simbologias similares podiam ser verificadas em grandes construções que até hoje ninguém sabe ao certo como foram executadas. Era o caso dos Templos Egípcios e das Pirâmides de Gizé.

Um dia entramos neste assunto, eu e meu pai, sobre visitarmos o Egito e ele disse “vamos!”. Era 2019 e esperamos a pandemia passar. Após, combinamos que a viagem sairia em 2023 e a ideia vingou, mas a exploradora que um dia eu achei que era recebeu uns “baques” da vida e preciso confessar que me percebo aos quarenta e cinco anos extremamente medrosa, evitando ao máximo situações que envolvam algum risco.

Conforme a data da viagem se aproximava, minha transpiração aumentava, pois estava prestes a deixar minha filha durante dez dias com minha mãe e minhas cachorras em um hotel (Como sobreviverão sem mim?). Também poderíamos brigar, eu e meu pai, não seria a primeira vez, mas tentava ao máximo não pensar sobre isso.

Dois dias antes de embarcarmos, o conflito entre palestinos e israelenses se agravou e questionei sobre um possível cancelamento da viagem, mas tudo prosseguiu conforme planejado. Dia nove de outubro saímos de avião de Curitiba para São Paulo e a aeronave atrasou uma hora para pousar já neste primeiro trecho, pois não havia pista em Guarulhos (Como assim não tem pista para pouso?) e na minha mente eu recebia a mensagem “isso é um sinal, ainda é tempo de voltar”.

(Também haveria um eclipse na quarta e na sexta, seria dia treze - mais sinais).

Confessei meus medos na aeronave e ali entendi que a diferença de idade entre eu e meu pai nos fazia ver a vida de forma diferente. Aos setenta e dois ele parecia não ter medo de nada, pois dizia que cada hora de vida a mais era lucro, mas e eu? O que significava a próxima hora para mim?

Buscando coragem dentro da alma, conclui que siginificava lucro também, poxa vida, era como deveria ser. E seria, se fosse depender de mim. Virei a chave ali e parei de pensar em coisas ruins.

Estava junto da pessoa que eu mais confio nesse mundo e a partir daquele momento permitiria que a viagem acontecesse do jeito dela.

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