Respostas para Conselhos Adoecidos
Adriana Tozzi
Enquanto jovens poetas declamavam na Praça,
rodeados de outros, tão vivos e pulsantes quanto,
a mulher rangia os dentes pela janela,
amargava a cor que delas emanava,
os risos largos, os braços em gestos rasgados,
o eco estridente dos megafones.
Ela, cinzenta como a moldura de sua vista,
guardava palavras no cofre fechado da garganta,
líricas outrora frescas, agora mofadas,
como roupas que nunca se expõem ao vento.
Do alto, sua severidade espreitava,
de um cômodo que o tempo empoeirou de soberba.
Vinha-lhe o desgosto de ver cor na praça,
de ver a luz fulgir em olhares que nunca leram os clássicos,
em bocas que gritavam sem métrica ou decoro.
As jovens, sob o sol, dançavam com as palavras,
pintavam com a voz a textura do mundo,
e ela, sob o peso de seus anos, sentia-se
desfeita pela algazarra que não pedia licença.
Mas havia em seu ranço algo doído,
uma inveja de sangue que lhe faltava,
de versos que agora não saíam —
não mais ousavam gritar contra o silêncio.
Ela, que escrevera em pergaminhos de mármore,
que outrora declamara em salões sufocados de fumaça,
agora temia o que era tão livre,
essas bocas sem amarras,
essas mãos tingidas de tinta que nunca secava.
E assim, entre o cinza e o grito,
ela fechou a janela.
O mundo continuou pulsante,
e ela, intacta, morreu mais um pouco.
Você
Adriana Tozzi
Sozinha, me perco nos dias,
Na delícia de não olhar o relógio,
Na paz,
No ócio,
No Nada.
De olhos vendados, tudo parece tranquilo.
Monstros brotam na mente e me despertam.
Tiro as vendas e te vejo.
Teu calor me acolhe,
Tua voz me acalma,
Teu amor me nutre.
A vista embaça com a claridade,
As horas aceleram e o estático se move,
Temo pelos efeitos colaterais
Você constrói um mundo novo e eu só vejo o pó.
Reflito sobre a paz,
O controle.
A solidão.
Concluo.
Preciso de lentes novas.
OS OUTROS
Adriana Tozzi
A terra murmura em sua cicatriz.
O eco dos ancestrais resiste ao vento,
Falam aqueles que sentem, que guardam no corpo o poder do profundo saber.
Os outros, que em sua falsa vitória acorrentaram os rios e esconderam as trilhas, saibam que as raízes não se corrompem e que o solo fermenta vingança.
Do ódio transformado, erguem-se as vozes, reverberam no sangue o grito coletivo.
Une, cura, ressurge.
A força que não pode ser negada.
Vejo o futuro no abismo do tempo,
É inevitável o poder da resistência.
Os outros serão engolidos.